Um clima de ansiedade tem tomado conta dos funcionários do Centro de Pesquisas Oncológicas, o Cepon, em Florianópolis. Com a finalização das obras do Centro Cirúrgico de Alta Complexidade e a chegada dos equipamentos hospitalares, faltam apenas detalhes para a entrada em operação da nova ala da principal unidade de tratamento de câncer em Santa Catarina. E a espera já tem data para terminar: o governador Eduardo Pinho Moreira inaugura o Centro na próxima terça-feira, 22, às 10h. O investimento estadual foi de R$ 14,2 milhões, com recursos do programa Pacto por Santa Catarina.
"O Cepon que já presta um serviço de excelência para a população agora fica completo. É uma satisfação muito grande poder entregar aos pacientes, que passam por um momento extremamente delicado, um serviço que trará mais alento e efetividade no tratamento do câncer", ressaltou o governador Eduardo Pinho Moreira.
Para a diretora Maria Tereza Schoeller, à frente do Cepon nos últimos cinco anos, o novo centro cirúrgico representa o fechamento de um ciclo, já que agora será possível oferecer o que ela chama de um atendimento global, desde o diagnóstico, passando pelas terapias sistêmicas até os procedimentos cirúrgicos mais complicados.
Diretora do Cepon, Maria Tereza Schoeller
“São cirurgias grandes, com abertura de cavidades, que podem levar de quatro a seis horas. O mais importante é que agora vamos ter a retaguarda dos 10 leitos de UTI, que permitirão a esses pacientes se recuperarem mais rapidamente e começarem o tratamento auxiliar da forma mais acelerada possível”, diz a diretora.
CIRURGIA NECESSÁRIA EM 40% DOS TRATAMENTOS
O Cepon já conta com ambulatório geral, onde são feitos consultas e exames, e ambulatório de intercorrência oncológica, um local para atendimento de pacientes com complicações em função do câncer. Também há um centro para realização de cirurgias de baixa e média complexidade. Com a inauguração da nova ala, o crescimento da estrutura será substancial: serão mais 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), cinco leitos de recuperação pós-anestésica, 18 leitos de internação pós-operatória e uma Central de Materiais Esterilizados (CME).
“A cirurgia é um braço fundamental no tratamento do câncer, aplicada em mais de 40% dos casos. O novo centro vai não apenas aumentar o tempo de vida dos pacientes, mas também melhorar a qualidade, permitindo que essa cirurgia seja feita no tempo ideal”, conta Schoeller.
MAIS RECURSOS
O número de funcionários saltará dos atuais 580 para 684, o que significa 104 novos postos de trabalho. A área construída também vai aumentar em 1,5 mil metros quadrados, passando para um total útil de 13,7 mil metros quadrados. A manutenção dessa estrutura será possível por conta de um aditivo no contrato do Governo do Estado com a Fundação de Apoio ao Hemosc e Cepon (Fahece), que administra a unidade. Hoje, são repassados R$ 6 milhões todos os meses, valor que passará para R$ 7,5 milhões a partir de junho.
A primeira cirurgia da ala de alta complexidade está marcada para ocorrer no dia 18 de junho. Antes, no dia 4, começam os treinamentos dos 104 funcionários. No começo, serão realizados 120 procedimentos ao mês nessa nova estrutura, mas a expectativa é que esse número cresça gradativamente e chegue a 200 por mês até o fim do ano. Isso significa mais do que dobrar a capacidade do Cepon, já que hoje são realizadas, em média, 150 operações ao mês.
Na opinião da diretora Maria Tereza Schoeller, o centro cirúrgico possibilitará, no médio prazo, zerar a lista de espera do Cepon para cirurgias, considerado até então um gargalo no atendimento.
NOVO CENTRO VAI DESAFOGAR OUTRAS UNIDADES
O secretário de Estado da Saúde, Acélio Casagrande, conta que a inauguração é um sonho de muitos anos e possibilitará uma melhoria no serviço prestado também em outras unidades públicas, especialmente da Grande Florianópolis, já que hoje elas realizam os procedimentos de alta complexidade. Entre as unidades que terão menos demanda, destacam-se o Hospital Celso Ramos, o Hospital Regional de São José, o Hospital Universitário e a Maternidade Carmela Dutra.
“Esses locais passam a ter uma folga para atender outras demandas. A partir disso, será possível ter uma maior organização do fluxo, tanto no Cepon quanto do resto da rede. Vale destacar também que nós vamos ampliar a proposta da regionalização, pois os pacientes continuarão a receber atendimento oncológico em cidades como Chapecó, Rio do Sul e São Bento do Sul”, destaca.
Casagrande também faz questão de salientar que o Cepon já realiza um serviço de excelência, com 10 mil atendimentos mensais. Ele também lembra que o centro foi considerado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), no fim de 2017, como a unidade da rede pública estadual com a melhor gestão.
PACIENTES COMEMORAM
Principais beneficiados com a conclusão da nova ala, os pacientes também demonstram otimismo que a construção ajudará a salvar vidas. É o caso do pescador Lucenir Alvim Marques, 54 anos, que luta contra um tumor ulcerado no intestino. Ele descobriu a doença em 2017, depois de começar a sentir fortes dores no reto quando estava trabalhando embarcado, no meio do oceano.
Paciente Lucenir Alvim Marques
Após o diagnóstico, ele passou por uma cirurgia no Hospital Regional de São José, porém não foi possível retirar todo o tumor. Na última sexta-feira, 18, ele foi ao Cepon para realizar tratamento quimioterápico. Ainda precisa de uma nova cirurgia, que já deve ser realizada no centro de alta complexidade.
“Esse centro cirúrgico, para nós que precisamos, vai ser muito útil. Muito bom mesmo. Quanto mais hospitais, melhor”, diz o pescador, natural de Governador Celso Ramos.
A dona de casa Marilene Oliveira Nunes, 59, teve um câncer de mama e realizou a operação, de média complexidade, no próprio Cepon em 2016. Agora, ela conta com o acompanhamento da equipe médica da unidade para saber se poderá operar também o coração, já que está com duas válvulas obstruídas.
Paciente Marilene Oliveira Nunes
Ela destaca a excelência no atendimento sempre que precisou se deslocar ao Cepon e acredita numa maior agilidade com a inauguração da nova ala. No caso dela, a espera foi de pouco mais de um mês. Além do tratamento adequado, Marilene diz que o paciente com câncer não deve jamais se entregar para a doença. “Ter câncer é complicado. Temos que entregar na mão de Deus. Mas, se já era bom, agora o atendimento aqui vai melhorar ainda mais, principalmente para quem está esperando”, opina a dona de casa.
DESGASTE MENOR NO TRATAMENTO
No Cepon há sete anos, o médico equatoriano Diego Alvarez Naranjo é especialista em cirurgias de cabeça e pescoço. Trata principalmente de casos de câncer de tireoide, cujo principal desencadeante é a radiação. Normalmente, as suas operações ocorrem no Hospital Celso Ramos. Agora, ele conta os dias para poder trabalhar em tempo integral dentro do Cepon.
Médico Diego Alvarez Naranjo
“Por ser um hospital de grande porte, no Celso Ramos a resolução dos casos é um pouco mais devagar. Esse é um Centro muito esperado, que vai nos dar a facilidade de trabalhar em um só lugar, com um percentual de resolução de casos muito melhor. Agora vamos conseguir fazer o que a literatura mundial diz a respeito das cirurgias”, conta Naranjo.
Assim como a diretora do Cepon, o médico também destaca que a centralização completa dos serviços na unidade do bairro Itacorubi fará com que haja um desgaste menor por parte dos pacientes. “Às vezes tínhamos que optar por tratamentos alternativos, como quimio e radioterapia, quando não tinha a opção de fazer grandes cirurgias”.
O TRABALHO DOS VOLUNTÁRIOS
Sonia Maria Silveira Mastella tem 74 anos, mas a disposição é de uma adolescente. Quase todos os dias, ela se desloca a uma edificação em frente ao complexo do Cepon. É ali que fica a sede da Associação dos Voluntários do Cepon (Avoc), da qual Sonia é a tesoureira. Mas o trabalho dela vai muito além da mera captação de recursos para ajuda aos pacientes. A principal atribuição de um voluntário é a ajuda física e espiritual aos enfermos.
Maria Silveira Mastella é tesoureira da Avoc
“Fazemos visitas nas salas de espera e terapia, acompanhamos os pacientes internados e damos uma palavra de apoio quando se faz necessário. Às vezes o paciente precisa de xampu, creme dental e nós oferecemos também um serviço social”, explica.
Nas últimas semanas, ela conta que tem um visto uma animação maior por conta da proximidade da inauguração do novo centro cirúrgico. A esperança é um alento para quem aguarda nas listas de espera:
“Câncer é uma doença que tem urgência, não espera. Quanto mais rápido você cuidar e tratar, são dias de vida que o paciente ganha. Essa ala cirúrgica vai ajudar muito”.
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