O Governo de Santa Catarina sancionou a Lei 17.558, que institui a campanha Setembro Amarelo de valorização da vida e cria o Dia Estadual de Prevenção ao Suicídio. Pela nova lei, ficou estabelecido que no mês de Setembro serão realizadas palestras e ações educativas referentes à prevenção ao suicídio. A fita amarela será o símbolo da campanha.
Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) elaborado em 2015, mostra que mais de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano no mundo. O número de vidas perdidas em nível mundial ultrapassa o número de mortes decorrentes de homicídios e guerras. Esses índices alertam para a necessidade de discussões sobre o assunto com o objetivo de incentivar o diagnóstico precoce e formas preventivas de tratamento.
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o Brasil tem apresentado taxas crescentes, o que configura um problema grave de saúde pública. O último estudo sobre o tema, realizado em 2017, revela que a alta taxa registrada na Região Sul do país é preocupante. Embora representem 14% da população nacional, os três estados da região registraram 23% dos casos de suicídio. Entre 2010 e 2016 foram registrados 3867 óbitos apenas em Santa Catarina, principalmente entre a faixa etária de 40 a 59 anos. Alto Uruguai e o Extremo Oeste foram as regiões com maior número de ocorrências.
A psiquiatra e coordenadora Estadual de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, Deisy Mendes Porto, esclarece que o crescimento do número de suicídios acompanha a expansão de doenças como a depressão, além do abuso de drogas.
Em Maio deste ano, Santa Catarina foi um dos estados beneficiados com recursos do Governo Federal para ações de prevenção ao suicídio. O montante de R$ 1,4 milhão deve ser aplicado em ações realizadas em seis capitais, sendo Manaus (AM), Campo Grande (MS), Boa Vista (RR), Teresina (PI), Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC). Os locais são considerados prioritários para as ações da Rede de Atenção Psicossocial devido ao alto índice de suicídio registrado na última década.
Por meio desse apoio financeiro, a SES criou o Plano Estadual de Prevenção ao Suicídio, que consiste na capacitação de profissionais e criação de estratégias para divulgação de informações que incentivem pessoas com doenças ou transtornos mentais a procurar ajuda com profissionais de saúde.
“Isto envolve também o investimento em oferta de assistência nos Centro de Atenção Psicossocial, ampliação de leitos e de toda a rede de atenção psicossocial”, comenta Deisy, ressaltando que é compromisso do Estado trabalhar de forma preventiva para diminuir o número de suicídios. “Reduzir o estigma e melhorar o acesso das pessoas ao tratamento são as metas atuais da SES. O objetivo é reduzir em 20% até 2020”, reforça a psiquiatra.
Ainda segundo a coordenadora, não há uma única causa para o suicídio. Mais de 90% das vítimas apresentam pelo menos um transtorno psiquiátrico, especialmente a depressão, considerada um dos principais fatores de risco. “Pais e escolas devem estar atentos e capacitados para identificar as transformações que apontam para condutas de risco. Profissionais de saúde precisam estar aptos a manejar os casos de risco e tentativas de suicídio”, observa.
O secretário de Estado da Saúde, Acélio Casagrande, lembra que a pressão social também impacta os jovens. Para o bom atendimento em Saúde Mental, a SES conta com o apoio dos municípios, que sediam os CAPS. “Por meio da parceria entre Estado, municípios e União temos condições de atender estas pessoas que procuram os serviços, nas unidades de saúde. Nos hospitais também existem equipes preparadas para dar o suporte. O Plano Estadual de Prevenção ao Suicídio vem para mostrar a atenção que o Estado tem dado a este problema”, acrescenta o secretário Casagrande.
Com a publicação da lei, as ações do Setembro Amarelo devem ser realizadas com iluminação de prédios públicos, palestras nas comunidades e outras ações com base científica e de forma continuada. No dia 24 de Agosto foi realizado no campus da Unoesc, em Joaçaba, o primeiro Seminário Macrorregional de Prevenção do Suicídio. Participaram do evento profissionais da rede pública, estudantes e gestores do SUS. Paralelamente, um workshop aberto à comunidade abordou cuidados com a saúde mental pessoal com orientações sobre como lidar com o estresse e levar uma vida mais tranquila. O seminário foi realizado pela SES com a parceria do Ministério Público e da Associação Catarinense de Psiquiatria.
Disque 188: Centro de Valorização à Vida
Ainda para prevenção do suicídio, o Ministério da Saúde assinou, em 2017, um termo de cooperação técnica com o Centro de Valorização à Vida (CVV) para que as ligações telefônicas da população ao número 188 sejam gratuitas. A partir disso, houve aumento significativo da procura, sendo que, em 2017, o CVV recebeu 2 milhões de ligações de cidadãos em busca de ajuda, o dobro do registrado em 2016.
Atualmente, 23 estados do Brasil estão contemplados e já podem contar com o atendimento, por meio do número 188, em suas localidades. Os estados são: Alagoas, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe, Acre, Amapá, Amazonas, Espirito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Santa Catarina, São Paulo, Tocantins, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia e Roraima, além do Distrito Federal. A partir de 30 de Junho desse ano, todo o território nacional conta com o atendimento gratuito do CVV.
O telefone ainda é o meio mais utilizado pela população para acessar o apoio emocional oferecido pelo CVV. O atendimento é realizado por voluntários e permite falar sobre sentimentos e dificuldades, aliviando a ansiedade, o desespero e encorajando o afastamento de eventuais pensamentos suicidas.
Sinais de alerta
- Alteração inexplicada do comportamento;
- Isolamento;
- Tristeza persistente;
- Alterações do sono e apetite;
- Queda no rendimento escolar;
- Mensagens com conteúdo suicida em mídias sociais. É preciso manter a atenção no que crianças e jovens fazem na internet;
- Pais e responsáveis precisam ficar atentos, respeitando a privacidade sem negligenciar os riscos;
- Os recentes acontecimentos trazem à tona uma realidade comum: o assédio virtual ou cyberbullying.
Mais informações podem ser encontradas no site da Associação Catarinense de Psiquiatria (www.acp.med.br) e os locais de atendimento na rede pública estão disponíveis na página da Secretária Estadual de Saúde (www.saude.sc.gov.br).
Foto: Paulo Goeth