OPINIÃO DE A NOTÍCIA
Desafios de Dalmo
Como gestor da saúde pública em qualquer esfera (seja municipal, estadual ou federal), não faltam desafios para Dalmo Claro, o secretário de Estado de Saúde no futuro governo Colombo. Ainda durante a campanha eleitoral, as pesquisas de opinião apontam o tema como maior preocupação dos catarinenses. Com experiência em gestão privada, Dalmo terá agora de adaptar-se às regras do setor público. Considerando todas as implicações de montagem de um secretariado, com coquetel de critérios políticos, técnicos e geográficos, não cabe aqui analisar o mérito da escolha, de resto atribuição de um governador eleito pela maioria dos eleitores catarinenses. Cabe, sim, cobrar que as demandas sejam atendidas.
Joinville precisa de mais leitos. Nem é necessário recorrer a comparações com o avanço da população, basta observar o pronto-socorro (PS) do Hospital São José, superlotado de forma recorrente. Essa situação gera um efeito em cascata. Além da dificuldade de atendimento de tantos pacientes, os leitos usados para as cirurgias eletivas acabam sendo destinados para quem passou pelo PS. No caso do Estado, esfera de competência de Dalmo, pode e deve ser ampliada a capacidade de atendimento do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt. Há a necessidade de cumprimento da promessa da policlínica e ativação de mais serviços no Hospital Materno-infantil. Apenas para citar os desafios mais urgentes.
Destaque- entrevista
ENTREVISTA
O senhor saúde
Um dia após ser anunciado para comandar uma das principais secretarias do Estado, Dalmo Claro fala de seus compromissos e desafios da área
Dalmo Claro de Oliveira (PMDB) é o novo secretário da Saúde de Santa Catarina. O médico, que fez carreira na iniciativa privada, mesmo tendo iniciado no serviço público, terá seu primeiro desafio na área política comandando uma das pastas mais importantes do governo estadual. Com um orçamento anual estimado em R$ 1,29 bilhão para 2011, a Secretaria da Saúde foi considerada por Raimundo Colombo (DEM) como a prioridade número 1, 2 e 3 do seu governo. Por lei, no mínimo 12% do orçamento estadual precisam ser investidos na pasta. Mas antes de arregaçar as mangas, ele precisará, junto com o governador, nomear cerca de 140 cargos comissionados – maioria pessoas da direção e gerência de hospitais e de unidades de saúde.
Diante de compromissos assumidos por Colombo com a região Norte no “Debates AN” e em uma entrevista para “A Notícia” logo após sua eleição, o futuro secretário preferiu ser cauteloso e não se comprometeu com a execução de obras, como a policlínica prometida por Colombo para o primeiro ano de sua gestão. Mesmo assim, ficou entendido que levará adiante a ideia de instalar as Organizações Sociais na área da saúde. Ele promete, também, rever a estrutura para a contratação de médicos, tentando dar uma perspectiva de crescimento para a carreira na área da saúde.
Formado em medicina pela UFSC, Dalmo é especialista em endocrinologia. Desde 1999, é o presidente da Federação das Unimeds de SC. Antes disso, trabalhou no Hospital Regional por três anos e no São José durante oito anos. Por telefone, de São Paulo, onde viaja pela Unimed, o médico conversou com “A Notícia”.
ENTREVISTA
“O modelo OS merece ser estudado”
AN – A Secretária da Saúde tem um orçamento anual previsto de R$ 1,29 bilhão. Como o senhor pretende gerir esses recursos ?
Dalmo Claro de Oliveira – A maior parte desse dinheiro está vinculada ou destinada e temos uma folha de pagamento elevada, além das verbas de manutenção de hospitais. Há um comprometimento grande de receitas. Não há muita flexibilidade para investimentos. Em relação a projetos, temos de ser cautelosos e pensar se há verba disponível. Primeiro, precisamos estudar como resolver alguns gargalos da saúde em todo o Estado que afeta a população. Os problemas são, basicamente, fila para a consultas com médicos especializados e dificuldade para fazer os exames médicos.
AN – O senhor tem ideia de como isso poderia ser resolvido?
Dalmo – Ainda não estudei essas questões, mas realizar mutirões para diminuir a quantidade de exames e consultas represadas é uma alternativa. Já as consultas especializadas vão demorar um pouco mais, mas provavelmente vamos ter que partir para policlínicas especializadas. Estou falando do problema de modo geral. Esses são os principais pontos. Depois, com um pouco mais de calma, tentaremos resolver outras questões, como a hospitalar, já que cada região tem um problema diferente. Florianópolis tem um sério problema hospitalar. Em outras regiões, há uma falta de leitos; em outras há muita oferta, mas baixa utilização. Então, precisamos fazer uma análise completa. Como fui nomeado só ontem (segunda-feira), a partir de agora vou procurar as pessoas e conversar.
AN – O senhor pensa em mudar o modelo de gestão de saúde no Estado? Pensa na implantação das Organizações Sociais (OS) em Joinville?
Dalmo – O Hospital Infantil vai bem. Por isso, já agendamos uma visita para conversar com a direção da unidade e analisar o funcionamento do hospital. É um dos casos que serão analisados e vamos avaliar para estudar a viabilidade de estender para outras regiões do Estado. Mas tudo precisa ser olhado com calma e cautela. Não tenho soluções prontas que vou tirar do bolso do colete. Sem dúvida, o modelo de OS merece ser estudado.
AN – O Hospital Regional e a Maternidade Darcy Vargas poderiam ser geridos por uma OS?
Dalmo – Não poderia dizer isso agora. Seria prematuro.
AN – Há necessidade da construção de um novo hospital em Joinville?
Dalmo – Joinville tem carência de leitos. Aqui, a média deve ser de dois leitos para cada mil habitantes, enquanto o necessário seria algo em torno de três leitos por mil habitantes. Nesta conta, já dá para perceber que Joinville tem uma deficiência de mais de 300 leitos. E ainda tem o agravante que a cidade atrai pacientes de cidades vizinhas. Aparentemente, essa seria uma forma palpável de solucionar essa falta de leitos.
AN – Em entrevista depois de eleito, Colombo prometeu construir uma policlínica em Joinville em seu primeiro ano de gestão. Isso está mantido? É possível?
Dalmo – Preferiria dizer isso daqui 60 ou 90 dias. Um lugar deste precisaria já estar pronto para ser alugado ou ser construído, além de precisar recrutar profissionais para trabalhar lá.
AN – O senhor acredita que Joinville precisa de um centro especializado?
Dalmo – Para Joinville, vamos precisar abrir conversa com a Secretaria Municipal de Saúde e fazer um diagnóstico e encaminhamento conjunto. Porque aqui tanto a presença do município quanto a do Estado é forte na saúde. Precisamos achar uma solução harmônica entre as unidades estaduais e municipais. Mas acredito ser possível utilizar as unidades hospitalares disponíveis para partir para os centros especializados.
AN – A dificuldade de contratação de médicos passa pelo salário baixo ou por outro motivo? Há alguma forma de sanar isto?
Dalmo – O motivo principal é a baixa remuneração do serviço público. Em alguns casos, também a raridade de profissionais naquela especialidade. Não existe uma carreira para o médico no serviço público com perspectiva de crescimento na carreira. Então, temos o salário e pouca coisa vai ser alterada com o tempo depois que você for contratado. Não é algo atrativo à carreira, apenas remuneração. Isso é algo que precisamos mudar. Vai ser preciso fazer um estudo para vermos a viabilidade de criar uma carreira de Estado para o servidor da saúde, que inclua os enfermeiros, anestesistas, farmacêuticos. Existe carreira de Estado para juiz, promotor e delegado. Há uma perspectiva constante de luta pelo crescimento na carreira, enquanto o profissional da saúde não tem. Algo precisa ser feito.
AN – Com a sua nomeação para a Saúde, o senhor deixa de ser um nome para as eleições municipais do ano que vem?
Dalmo – Distancia a possibilidade. O desafio da secretaria é muito grande. É difícil assumir um cargo destes para depois de um ano e três meses, considerando a descompatibilização, abrir mão do cargo. Bem nessa época estaremos começando projetos importantes, planejados no primeiro ano.
AN – O senhor é a favor da CPMF?
Dalmo – Não. Acho que daria para viver sem. O governo já arrecada o bastante.
Geral
ATENDIMENTO MÉDICO
Câmara de Vereadores vai homenagear o SamuA Câmara de Vereadores de Joinville fará uma sessão solene para homenagear os cinco anos de funcionamento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Será dia 13 de dezembro, às 19h30, no plenário da Câmara de Vereadores.
DENÚNCIA EM ITAIÓPOLIS
Exames de saúde feitos por jardineiro
Prefeitura investiga se um servidor não habilitado aplicava eletrocardiogramas
A denúncia de que um funcionário não habilitado estivesse aplicando exames de eletrocardiograma em um Pronto Atendimento é investigada pela Secretaria de Saúde de Itaiópolis, no Planalto Norte.
Uma comissão foi montada na segunda-feira para apurar a suspeita de que o chefe de manutenção e jardinagem do PA da Fundação Hospitalar Municipal Santo Antônio tenha ficado responsável pelos exames. O eletrocardiograma é um teste que registra a atividade elétrica do coração para identificar problemas cardíacos.
O caso veio à tona no fim de novembro, quando a vereadora Marlete Arbigaus (PP) disse ter recebido denúncia por e-mail com uma imagem que mostra o funcionário fazendo o eletrocardiograma. A vereadora mostrou a fotografia aos companheiros em sessão plenária da Câmara, destacando que o servidor aparece na foto com martelo, chave de fenda e outras ferramentas penduradas na roupa. Na mesma sessão, o vereador Paulo Sérgio Mirek (PSDB) contou que conversou com o funcionário sobre a denúncia.
Conforme Mirek, ele teria revelado que fazia os eletrocardiogramas contra a vontade porque era obrigado por um superior. O vereador sugeriu a abert uma sindicância para apurar o caso. Os relatos dos vereadores estão registrados na ata de 29 de novembro.
O secretário de Saúde de Itaiópolis, Rodrigo Muniz Malat, afirmou ontem que só tomou conhecimento da denúncia na segunda-feira passada. “Eu soube pela imprensa. Não havia registros de reclamação na ouvidoria da Prefeitura”, garante.
Segundo o secretário, um inquérito administrativo foi montado para apurar o assunto. “A princípio, pode ter sido um caso isolado. Precisamos saber qual médico pediu o procedimento e quantas vezes ele pode ter sido feito por esse funcionário”, afirma.
A expectativa é de que o inquérito fique pronto entre fevereiro e março do ano que vem. Segundo Rodrigo, o funcionário responsável pelos serviços gerais vai continuar fazendo seu trabalho nos próximos meses. Os eletrocardiogramas serão aplicados por enfermeiros da unidade. “Como sempre deve ser feito”, reforça.