CRACK NEM PENSAR
Ana Lúcia contra a pedra
Com 42 anos, separada do marido e quatro filhos, mulher cria os netos deixados pela mãe, uma adolescente viciada na droga
Ana Lúcia da Costa, 42 anos, é uma mulher protetora. Separada do marido, mãe de quatro filhos e avó de três crianças, enfrenta um problema avassalador nas famílias: a filha de 17 anos é usuária de crack.
A adolescente tem dois filhos, um menino de três anos e uma menina de dois. Filhos de pais diferentes e com destinos incertos.
A avó assumiu criá-los. Vencidos os problemas de saúde quando nasceram prematuros, aguarda o desenrolar do processo onde pede a guarda à Justiça da Infância.
– Eu tinha avisado: o primeiro eu crio, um segundo filho não vou criar. Mas não consegui deixar a pequena para adoção. É meu sangue – conta Ana Lúcia, merendeira em uma creche.
A decisão pesou. Temia o sofrimento anterior, de horas ao lado de uma incubadora, a permanência do bebê em uma UTI Neonatal, as dificuldades para conseguir leite. Por a filha ter usado crack na primeira gestação, o menino nasceu com problemas respiratórios.
Talvez pelo mesmo motivo, a menina tenha um comportamento de irritabilidade constante. Pouco sabe pedir, mas chora com frequência.
Não apenas a situação das crianças preocupa. Mas o comportamento da filha quando o crack está fazendo efeito:
– Ela fica agressiva, não ouve ninguém e nem olha para os filhos. Passa dias na rua, dorme sob viadutos, não se alimenta. Quando volta é porque está muito mal. Chega machucada e suja – conta Ana Lúcia.
O retrato deste abandono foi observado pelo neto, de três anos:
– Vó, quando a mãe tá na estrada (rua), ela nem olha pra gente.
Na última gravidez, a adolescente conseguiu amamentar por 15 dias. Mas o leite logo secou. Em seguida, ela ganhou as ruas. Ficou quase um mês fora.
– Fiz um grande esforço para comprar leite em pó. Minha renda é de cerca de R$ 500 – explica Ana Lúcia, que recebe bolsa-família pela filha adolescente.
Com a guarda, poderá ter o salário ampliado.
Além da alimentação, outro problema:
– Consegui fraldas de pano, mas a menina ficava com as pernas irritadas e tivemos que comprar descartáveis.
Ana Lúcia tem uma rotina pesada: levanta às 6h, dá banho nas crianças, as deixa nas creches (lugares diferentes), trabalha até as seis da tarde. Retoma o caminho da casa, onde cuida dos afazeres domésticos. Pelo imóvel, paga um aluguel de R$ 51 para a prefeitura.
Na véspera do feriado de Corpus Christi, Ana Lúcia fez seus planos: como não tinha que trabalhar, imaginou dormir um pouco mais. Chovia quando foi acordada por batidas violentas na porta. Mais uma vez a filha voltava das ruas. Como sempre, gritava para a mãe abrir a porta. Todos acordaram.
Crianças chamam a avó de mãe
Ao lado da mãe, a moça conta sua história:
– Eu não tive infância. Com nove anos usava droga. Me sinto melhor sem usar, mas o problema é que não consigo parar.
A adolescente, que estudou até a quarta série, conta dos nove meses que ficou em uma fazenda terapêutica. Lembra do trabalho duro, da saudade da mãe e dos filhos:
– Quando eu estou doida, fico sem noção, mas sem usar lembro de tudo. Lá na fazenda, eles fazem a gente trabalhar pesado, mas o problema do usuário não é físico, é da mente – afirma.
Ana Lúcia conversa com a filha. Tenta mostrar que está perdendo momentos importantes da vida das crianças, como os primeiros passos, o aprender a falar, as descobertas da infância.
– Filha, até de mãe eles estão me chamando. Eu não me importo, mas a mãe é você.
Ela também parece não se importar. Sabe que proteção melhor seus filhos não terão.
zerohora.com
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CRACK NEM PENSAR
Abstinência e solidão de bebês
Um dos quadro mais delicados enfrentados pelos profissionais destas áreas, especialmente em hospitais da rede pública, é o bebê que apresenta síndrome de abstinência. O problema é mais intenso nos primeiros cinco dias de vida, mas pode se estender até a primeira quinzena.
Bebês nestas condições podem apresentar manifestações em vários sistemas do organismo. Alguns são bem visíveis: baixo peso, choro estridente característico e convulsões.
– A gente também encontra bebês depressivos. Isso ocorre por que a mãe, em via de regra, não acompanha a criança como deve ser: não faz o contato da pele, não pega no colo. São bebês tristes e irritados, que muitas vezes sequer respondem a um olhar – diz a médica.
Outros fatores são a dificuldade de sucção, diarreia, vômitos, febre, tremores, sudorese excessiva e palidez.
O vínculo mãe-filho costuma ser afetado
De imediato, os problemas neonatais relacionados ao crack são: sofrimento fetal, asfixia, prematuridade, baixo peso, diminuição do comprimento e do tamanho da cabeça e alterações do comportamento. Outros problemas no recém-nascido estão associados ao potencial risco de transmissão de doenças cuja incidência acaba sendo maior em usuárias de drogas, como sífilis e HIV.
Outra consequência do uso da droga é o abandono da criança, ainda na maternidade.
O consumo do crack, apesar de ter crescido entre todas as camadas, ainda está associado às de menor poder aquisitivo, como moradores de rua. Muitas mães com a dependência já chegam aos hospitais com registros em programas e serviços sociais, como conselhos tutelares e abordagem de rua. Uma avaliação social permite identificar se possuem ou não condições de permanecer com o filho. Quando isso não ocorre, o bebê já fica para a adoção.
Crianças têm problemas físicos e de raciocínio
A criança gerada nestas condições também pode demonstrar dificuldade de aprendizagem na linguagem, raciocínio, compreensão verbal e memória. O sofrimento físico também pode ser grande: estrabismo, hipertensão arterial, hipertonia muscular (aumento anormal do tônus muscular ou do tônus de um órgão).
A prevalência de drogas ilícitas na gestação é difícil de determinar, porque as gestantes omitem essa informação. Mas existem estatísticas de que 85% das consumidoras de drogas estão em idade fértil, ou seja, entre 15 e 40 anos, e que cerca de 30% são consumidoras antes dos 20 anos, o que demonstra um longo período de risco com a utilização da droga.
CRACK NEM PENSAR
Falta local adequado para tratar crianças e usuários
O Estado não oferece um lugar adequado onde crianças e adolescentes possam tratar a dependência química. Isso ocorre principalmente quando se trata de famílias com maior vulnerabilidade social.
O problema torna-se ainda mais grave quando as adolescentes já possuem filhos. Com isso, uma das prerrogativas básicas, que é manter mães e filhos próximos, não é obedecida. Encaminhadas para centros terapêuticos, as jovens ficam isoladas.
Os serviços disponíveis quase não oferecem atividades como oficinas onde, além do tratamento a paciente possa participar de trabalhos que despertem interesse de um jovem.
– Esta é uma reivindicação dos conselhos tutelares. A gente sabe da dificuldade que é não apenas conseguir uma vaga, mas também contar com um serviço adequado – explica Scheila Thomé, conselheira tutelar no Continente, em Florianópolis.
Por outro lado, observa a conselheira, a permanência das jovens mães na rua acarreta outra situação comum e preocupante:
– Quando a família da adolescente não é protetiva, ela pode ir para a rua usar drogas. Algumas levam os filhos, o que os deixa também em situação de vulnerabilidade – diz Scheila.
Muitas vezes o Conselho Tutelar é acionado. Dependendo da situação (quando não existem condições de retorno ao lar ou algum familiar para receber os filhos), as crianças seguem para um abrigo. Depois, caberá a justiça da infância decidir os rumos:
– Muitas vezes a destituição do poder familiar é a saída. Mas um lugar adequado para o tratamento das jovens mães poderia levar à sua recuperação e à manutenção dos vínculos familiares – observa a conselheira.
LEITOS VAZIOS
Pronta, mas sem pacientes
Impasse entre governo e direção do Hospital São José, de Maravilha, impede atendimento na UTI, que está pronta há um anoEnquanto alguns hospitais sofrem com a falta de vagas nas Unidades de Tratamento Intensivo, em Maravilha uma UTI está pronta há um ano, com investimento público, e ainda não atendeu ninguém. Há um impasse entre o governo do Estado e a direção do Hospital São José, que é administrado pela Sociedade Beneficente Hospitalar Maravilha.
De acordo com a direção do hospital, o Estado fez um investimento de R$ 1,6 milhão na infra-estrutura, que conta com 10 leitos e equipamentos de hemodiálise, respiração artificial, dosadores, monitores, desfibriladores e aparelhos de eletrocardiograma, entre outros.
O hospital entrou com uma contrapartida de R$ 200 mil. No entanto, o custo para manutenção da UTI é estimado em R$ 300 mil por mês. De acordo com o diretor clínico Gilson Pereira cada leito custa R$ 900 por dia e o Sistema Único de Saúde (SUS), banca apenas R$ 478. O restante teria que vir de outras fontes.
Ele afirma que, iniciando o atendimento, o hospital teria que fechar as portas em seis meses se não tiver um apoio. Pereira diz que, apesar de ser um hospital particular, a instituição é filantrópica e atenderia gratuitamente os pacientes da UTI.
– O Hospital não visa lucro – alerta Pereira.
O médico e ex-diretor Robson Souza informou que em 2004 houve uma mobilização das lideranças da comunidade para que a unidade fosse construída, mesmo com o alerta do hospital de que seria necessária uma fonte para manter as despesas. A obra iniciou em 2006 e ficou pronta em 2009. Souza entende que a estrutura se transformou num elefante branco.
Ele mesmo fez cursos de preparação para atendimento e está ansioso para que ele funcione, devido a demanda por pacientes da região. Atualmente a UTI mais próxima fica em Chapecó, a 90 quilômetros, e nem sempre tem vaga. O diretor clínico do hospital, Adivo Stein, disse que, recentemente, teve que levar uma paciente numa ambulância até Blumenau, para conseguir atendimento intensivo.
– Foram 14 horas de viagem entre ida e volta – desabafou.
O gerente regional de saúde, Neltair Pissatto, disse que o governo do Estado fez os investimentos devidos que foram solicitados para a instalação da UTI. Mas que é difícil bancar a manutenção da estrutura.
– O Estado não tem verba específica para o custeio – diz Pissatto.
Ele acredita que a iniciativa de buscar os recursos é o do hospital. No entanto, afirma que o governo quer ver a estrutura funcionando e, para isso, prega a união da instituição, municípios e lideranças.
A assessoria de imprensa da prefeitura de Concórdia informou que o município não tem como bancar a despesa que vai atender toda a região. A situação será discutida no próximo dia 11, em reunião da Associação dos Municípios do Entre Rios. Está confirmada a participação de representantes das prefeituras da região, governo do Estado e do hospital. DEBONA | Maravilha
darci.debona@diario.com.br
DARCI
LEGISLAÇÃO
Empregador proibido de exigir teste de HIVO Ministério do Trabalho proibe o empregador de exigir o teste de HIV na hora de contratar uma pessoa. Se a lei for descumprida, o empregado poderá entrar com ação judicial por danos materiais e morais e a aplicação das penalidades da lei 9029 de 1995, que prevê de um a dois anos, pena de detenção mais multa inclusive do dono da empresa.
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Células-tronco contra o envelhecimentoMédicos pesquisadores brasileiros conseguiram desenvolver um método de separar células-tronco contidas em 50 mililitros de gordura. Agora os cirurgiões plásticos vão começar os testes em pacientes.Vinte mulheres com idades entre 45 e 55 anos, terão células-tronco próprias misturadas a gordura e injetadas debaixo da pele do rosto.