Drama do câncer
O número de pacientes acompanhados é maior, mas pelo menos 80 pessoas passam por sessões de tratamento contra o câncer no setor de oncologia do Hospital São José. Pacientes de cidades do Planalto Norte também são atendidas. A doença se transformou em flagelo em Joinville e talvez seja momento de pensar em algo além do acelerador linear, aparelho perto de entrar em operação.
Mais mortes
Na década entre 1997 e 2006, os tumores matavam entre 280 e 350 pessoas por ano em Joinville. Somente em 2007 e 2008 seria ultrapassada a marca de 400 mortes anuais. No ano passado, conforme a Secretaria de Saúde de Joinville, mais um salto, com 557 vítimas fatais.
Avanço em dobro
O número de mortes em Joinville, de todas as causas, cresceu 15% nos últimos dois anos. No caso do câncer, o avanço foi perto de 30%. Apenas doenças do aparelho circulatório (coração) matam mais na cidade. Os dados do ano passado, com mais de dez mortes por semana, poderia ser uma anomalia, resultado de ano infelizmente atípico.Que nada. Em 2010, até julho, a mortalidade pelos tumores segue naquele mesmo patamar em Joinville.
Dia a dia
- Doações - A sala de leitura do Hospital Universitário (HU) está solicitando doação de computadores para aperfeiçoar o espaço destinado aos pacientes e acompanhantes. Além dos livros, revistas e gibis disponibilizados, eles necessitam de mais computadores com acesso à internet. As doações podem ser entregues na sala de leitura do HU, localizada no andar térreo do hospital, das 8h às 12h e das 13h às 17h. Informações com Eva Maria Seitz pelo telefone (48) 3721-8086
Colunista Cacau Menezes
Hospitais
Enquanto a Unimed Florianópolis avalia se vai mesmo adquirir o hospital do SOS Cárdio, outro empreendimento, ainda maior, já está consolidado e será inaugurado em 10 de novembro: o Hospital Baía Sul. Serão 90 leitos para a realização de procedimentos de alta complexidade, sendo 15 deles de UTI, e pronto-atendimento. O investimento, feito por um grupo de empresários locais, é de R$ 30 milhões.
Geral
A rede da vida
Voluntárias dedicam-se ao trabalho de prevencão ao câncer em mulheres de baixa renda
Os dedos firmes de Bernardina Martins e a precisão dos bordados em ponto de cruz não combinam com a idade dela. Afinal, de uma senhora de 84 anos se espera algum tremor nos dedos e problemas de visão. Ela, ao contrário, mostra saúde e disposição de mocinha - e um coração bem maior que o seu metro e meio de altura.
Todas as semanas ela pega um ônibus ou táxi e vai até a sede da Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) em Florianópolis, onde trabalha como voluntária no “Recanto das Artes”.
A maior alegria de Bernardina é colocar o tradicional uniforme cor-de-rosa e tirar da sacola as toalhas e panos de prato que bordou em casa, e exibi-las para as colegas, todas habilidosas na arte de tecer fios e formas.
No final de outubro os trabalhos serão vendidos e os recursos ajudarão a sustentar o importante trabalho de prevenção ao cânceres de mama e de útero desenvolvido pela RFCC. Ações similares acontecerão nas demais 62 regionais da ONG espalhadas por Santa Catarina.
Enquanto algumas voluntárias costuram, em outra dependência da Rede a enfermeira Francisca Iargas, 53 anos, realiza mais uma coleta de material para o exame preventivo de câncer de colo de útero - conhecido como Papanicolau. Conversa com a paciente e, depois, ensina como se faz a apalpação das mamas. Se suspeitar de alguma alteração, encaminhará a moça para um dos médicos da RFCC.
A vovó Bernardina e a enfermeira Francisca são dois personagens da mesma história. Cada uma à sua maneira, ajudam a combater os dois tipos de câncer que mais matam as pessoas do sexo feminino no Brasil e no mundo: os de mama e de útero. E elas são apenas duas peças de um imenso tabuleiro de solidariedade, criado em São Paulo, em 1948.
A Rede Feminina de Combate ao Câncer é a mais antiga organização não-governamental brasileira na área de prevenção e saúde. A entidade chegou a Santa Catarina em 1961. Desde aquele ano, mais de 43 mil mulheres já receberam atendimento.
A presidente estadual é Aglaê Oliveira, da regional de Blumenau, onde é voluntária há 23 anos.
Estamos iniciando o Outubro Rosa, mês conhecido mundialmente como período de campanha de conscientização e prevenção ao câncer de mama. A iniciativa surgiu na Califórnia em 1997, e ganhou o mundo ao iluminar com holofotes cor-de-rosa monumentos como a Torre de Pisa, na Itália, e o Cristo Redentor, no Rio. Em Florianópolis, recebem luzes rosadas a figueira centenária da Praça XV e o lago em frente à Rodoviária.
A revista Donna DC aproveita a data para homenagear, nesta edição especial cor-de-rosa, as voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer
Informação que salva pessoas– Quando foi que você menstruou pela última vez?
– Tem vida sexual ativa?
– Usa algum tipo de contraceptivo?
– Tem filhos?
– Fez abortos?
A lista de perguntas é longa. E necessária, para saber quem é a paciente que está sendo atendida pela enfermeira ou pelos médicos da Rede Feminina de Combate ao Câncer. A prioridade é atingir, com as ações educativas de prevenção e os exames físicos de colo de útero e de mama, as mulheres de baixa renda, moradoras das áreas de periferia e que não têm o hábito de frequentar os postos de saúde do município para se cuidarem – por ignorância ou vergonha.
Para atingir estas mulheres, a RFCC traçou uma estratégia: vai até onde elas estão. As voluntárias do setor educativo sobem morros, visitam escolas, fábricas, creches e associações de moradores, para um bate-papo com as mulheres.
Em Florianópolis, este trabalho é coordenado pela voluntária Célia Queiroz. Ela reitera que o primeiro passo para a prevenção do câncer é a informação.
– Buscamos conscientizar as mulheres sobre o valor da vida e, consequentemente, da própria saúde, sem preconceitos ou tabus. Queremos que elas aprendam a se cuidar.
Célia explica que o diagnóstico do câncer ainda é feito tardiamente no Brasil, e que, por isso, muitas vezes a cura torna-se impossível. Daí a necessidade de se investir na prevenção, que é a base do trabalho da Rede Feminina.
– As políticas de assistência e informação às mulheres ainda são deficitárias no país, e isso nos motiva a continuarmos nosso trabalho educativo – diz.
Somente no primeiro semestre deste ano, 450 mulheres participaram dos encontros. Nos anos de 2008 e 2009, as palestras contaram com 1.482 ouvintes.
Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para 2010 indicam que teremos 49.240 novos casos de câncer de mama no Brasil. Em Santa Catarina, serão 1.570 casos. Já em relação ao câncer de colo de útero, a estimativa é de 8.680 novos casos em Santa Catarina.
Autoexame, o primeiro passo
Na sede da RFCC as mulheres aprendem a realizar corretamente o autoexame das mamas, uma vez por mês. Se for observada qualquer alteração, um médico deve ser procurado em seguida
Uma luta contra o tempo
Márcia Helena Blini (a primeira da direita, na foto) é a presidente da Rede Feminina de Combate ao Câncer em Florianópolis. Casada e mãe de duas filhas, é voluntária há 24 anos, e conta que, com tanto tempo de casa, viveu muitos momentos emocionantes.
– Sempre que encontramos em nossas pacientes sinais que podem indicar um câncer de mama ou de útero, ficamos ao mesmo tempo tristes – porque são doenças graves – e contentes, pois sabemos que quanto mais cedo diagnosticadas, maiores são as chances de cura. Nossa meta na RFCC é procurar, sempre, sermos mais rápidas do que o câncer.
A Rede, que conta com cerca de 60 voluntárias, possui sede própria na Capital: uma ampla casa localizada na Rua Rui Barbosa, no Bairro Agronômica, próxima ao Lar Recanto do Carinho.
O gasto com o pagamento de funcionários e a manutenção da sede é de cerca de R$ 10 mil mensais. A receita chega a números semelhantes. Os recursos vêm de uma parceria firmada com a prefeitura – R$ 2 mil –, que devem ser usados para pagamento de material gráfico (panfletos) e exames preventivos de câncer; da mensalidade paga por todas as voluntárias e outras colaboradoras; da lojinha (brechó), que funciona junto à sede; da venda das peças confeccionadas pelas voluntárias do Recanto das Artes; e de uma doação de R$ 1 mil que a regional recebe para a compra de 30 cestas básicas para as pacientes mais carentes que estão em tratamento no Cepon.
– Nos falta dinheiro para investir em novas ações e na ampliação do atendimento. Por isso, precisamos de ajuda neste momento – explica a presidente.
O ideal, diz ela, seria contar com o apoio de empresas patrocinadoras, e receber da Receita Federal artigos apreendidos para a realização de bazares.
Prevenção é a palavra-chave
O objetivo principal da Rede Feminina de Combate ao Câncer é proporcionar às mulheres de baixa renda, da Grande Florianópolis, informações e exames de prevenção ao câncer de colo de útero e de mama (através da técnica da apalpação). As voluntárias ressaltam, entretanto, que as portas da entidade estão abertas a todas as mulheres que precisarem de alguma orientação.
O primeiro passo é apresentar-se à recepção da sede da RFCC e preencher a ficha. Depois, a paciente é encaminhada para a enfermeira, que faz a coleta do preventivo do câncer de colo de útero e a apalpação das mamas. Na sequência, o material coletado é enviado para análise em um laboratório externo. Quando o exame volta para a RFCC, o encaminhamento dependerá do resultado. Se está tudo bem, a paciente leva o exame para casa, com o compromisso de manter os cuidados regularmente. Se o Papanicolau mostrar alteração, os médicos da RFCC fazem exames complementares, como colposcopias (procedimento minucioso no útero) e biópsias. No caso de lesões malignas, as pacientes são encaminhadas para especialistas e atendidas no Cepon. Se a alteração é nas mamas, a paciente é encaminhada para um mastologista, para novos exames.
– Muitas mulheres chegam aqui já sabendo que estão doentes, e querem uma orientação. Além de examiná-las, também cumpro os papéis de conselheira e amiga, já que elas estão em busca de algum conforto – conta a enfermeira Francisca Iargas, que atende entre 22 e 28 mulheres por dia, de segunda a sexta-feira.
Outras duas voluntárias são responsáveis pelo atendimento domiciliar, visitando as pacientes que estão em tratamento oncológico. Cinco médicos completam a equipe, quatro deles contratados e uma médica voluntária
Depois do susto, uma vida nova
A secretária Andréa de Lima, 33 anos, casada e mãe de uma menina, sabia que tinha, há anos, uma lesão no colo do útero. Uma vez, um médico havia lhe dito que este tipo de “feridinha” nem precisava de tratamento, e ela acreditou.
– Um dia fui fazer o preventivo na sede da RFCC em Florianópolis e a lesão apareceu. O médico me explicou que era causada pelo vírus HPV e que eu precisava cauterizá-la logo. Hoje, faço meus exames a cada seis meses, com a enfermeira Francisca, e sei que minha saúde está bem cuidada – conta Andréa.
Foi também através do trabalho da Rede que Andréa aprendeu a fazer direitinho o exame de toque nas mamas – recomendado para todas as mulheres, mensalmente, sempre após a menstruação.
A enfermeira Francisca Iargas explica que o exame preventivo de colo de útero deve ser feito uma vez por ano, a partir do momento em que a mulher começa a manter relações sexuais. Já o exame de toque das mamas pode começar bem antes: já a partir da primeira menstruação.
– São procedimentos simples e eficazes, que ajudam a salvar milhares de vidas todos os anos, reforça a enfermeira.
Onde você compra com pouco dinheiro e ajuda muito
O brechó, que funciona junto à sede da RFCC, em Florianópolis, é uma das principais fontes de receita da entidade. Além de roupas (semi-novas) masculinas, femininas e infantis, são vendidos também acessórios, como bolsas e bijuterias.
– Aceitamos qualquer produto, desde que esteja em bom estado de conservação. Quem quiser doar peças, basta trazer aqui na sede – explica a voluntária Eliane Dias da Silva.
NÚMEROS DA RFCC NA CAPITALATENDIMENTOS EM 2009
4.451
PACIENTES
310
COLPOSCOPIAS
90
BIÓPSIAS
219
ALTERAÇÕES DE MAMA
- Casos de câncer de colo de útero:
5 LESÕES DE BAIXO GRAU E 7 DE ALTO GRAU
- Câncer de mama:
DADOS NÃO COMPUTADOS
O brechó funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h.