OPINIÃO
A saúde espera por respostas
Governo novo, velhos problemas. A expectativa de solução para as históricas dificuldades enfrentadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é tão grande quanto a responsabilidade dos gestores eleitos e de suas equipes. Uma das soluções mais importantes, sem dúvida, é o fim do subfinanciamento da saúde. O desafio não será fácil. O Conselho Federal de Medicina (CFM) fez o alerta: a situação do orçamento da saúde para 2011 é uma das mais críticas dos últimos anos. Na avaliação do CFM, seriam necessários ao menos R$ 100 bilhões para dar conta do recado.
Para acabar com este problema, o remédio é simples: a aprovação da lei que regulamenta a emenda constitucional 29, que tramita no Congresso. Mas se a resposta é esta, por que não aprová-la logo?
Por outro lado, independentemente do fim dessa novela, o novo governo não pode ignorar a necessidade de valorizar o médico e os outros profissionais da saúde. Achincalhados por baixos honorários e vínculos empregatícios frágeis ou inexistentes, cada vez menos médicos aceitam trabalhar em condições precárias, em municípios distantes ou mesmo nas periferias de grandes centros. Mais uma vez, o prejuízo recai sobre a população, impedida de ter acesso ao melhor atendimento.
Ao contrário do que pensam, não há falta de médicos no País e o fim da desassistência não depende da abertura de cursos de medicina em escala industrial, e nem da revalidação irresponsável de diplomas obtidos no estrangeiro. Ressalte-se que ambas as medidas jogam a qualidade da prática médica no País ladeira abaixo.
A criação de uma carreira de Estado para o SUS, com remuneração digna e perspectivas de progressão, nos mesmos moldes de juízes e procuradores (proposta apresentada pelo CFM), é uma saída para o impasse. Com ela, o governo teria mais facilidade de cumprir sua promessa de entregar 500 unidades de pronto-atendimento (UPAs) e completar milhares de equipes do Programa Saúde da Família que estão acéfalas.
Assim acompanhamos a chegada do novo governo, renovando nossas esperanças. Agora, os médicos acompanharão atentamente a confluência dos astros para ver como o desejo expresso de mudanças resultará em ação concreta, efetiva e coerente para que 2011 seja um bom ano para a saúde brasileira.
ROBERTO LUIZ D’AVILA, PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA
SAÚDE
Saúde não sai de férias
Lembre-se que o bronzeado é uma tentativa do organismo de se defender
As férias foram feitas para relaxar a cabeça e o corpo. Mas no sentido positivo da palavra. Relaxe, mas não seja relaxado. Nada de desatar a comer guloseimas ou se atirar ao sol como se fosse a última vez. Aproveite que um novo ano começa e coloque a saúde no topo da sua lista.
Sol é essencial, ajuda a evitar a osteoporose e é um grande aliado no combate à depressão, mas os especialistas alertam que 15 minutos semanais são o bastante para obter tais benefícios. O bronzeado, lembram, não passa de uma tentativa desesperada do organismo de produzir uma cor mais escura para se defender da radiação excessiva, por meio da hiperprodução de melanina. Essa explicação já é motivo suficiente para pensar duas vezes antes de se jogar na areia por horas a fio.
Mas, se precisar de mais uma razão, vale o alerta: os raios estarão ainda mais intensos neste ano. De acordo com o coordenador do Laboratório de Física das Radiações da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Cássio Stein Moura, a cada 11 anos, o sol intensifica a sua emissão de luz visível e de ultravermelho, o que dá a sensação de mais calor e também o torna mais perigoso.
“Essa medição já é acompanhada há mais de 50 anos. Já se sabe também que nos dois anos seguintes a esse reforço na intensidade do sol, a incidência de câncer de pele aumenta consideravelmente”, avisa Moura.
Toda a cautela que vale para o sol também deve ser adotada na alimentação. Neste período do ano, a tendência é comer mais e optar por alimentos diferentes. Alguns bares e restaurantes também não mantêm os produtos refrigerados de maneira correta, o que multiplica os casos de gastroenterite ou de infecções intestinais, que podem ser causadas por vírus ou bactérias. A higiene é importante sempre, mas precisa ser redobrada no verão.
“Se chegou ao bar ou ao quiosque, não confiou no aspecto do ambiente e não tem outra opção por perto, escolha um produto industrializado e sem maionese, que venha dentro de embalagens e com o qual o atendente não tenha contato com as mãos”, aconselha a nutricionista Júlia Dubin Melnick.
Para o clínico-geral Carlos Rodrigues Picarelli, os veranistas se descontrolam em três quesitos: sol, água e comida. “Todos os anos são feitos os mesmos alertas: não entre no mar em áreas sem salva-vidas, coma apenas alimentos com controle de higiene, hidrate-se, fuja do sol em horários impróprios. Nada adianta. A impressão que dá é de que as pessoas não escutam”, lamenta Picarelli
A CENA MÉDICA | MOACYR SCLIAR
Anorexia e inteligência
A notícia chegou com atraso e deu um toque melancólico à passagem do ano: morreu a modelo e atriz francesa Isabelle Caro que, numa foto famosa, mostrou seu corpo magérrimo (pesava menos de 30 quilos) devastado pela anorexia nervosa, da qual ela, como muitas outras garotas, foi vítima. Fez disso uma causa, inteiramente justificada quando se considera as pressões exercidas, sobretudo sobre modelos, para que tenham um corpo delgado. Isabelle defendeu essa causa com coragem e com inteligência.
Por coincidência, no mesmo dia em que foi anunciada sua morte, era divulgado um estudo publicado na revista inglesa de psiquiatria “Annals of General Psychiatry” mostrando que pessoas com anorexia nervosa têm quociente de inteligência (QI) superior ao da população em geral. Não chega a ser novidade; outros estudos já haviam chegado à mesma conclusão. A pergunta se impõe: como se explica que pessoas inteligentes adotem o comportamento doentio que as leva a recusar o alimento, chegando ao extremo da completa desnutrição?
A resposta é óbvia. Inteligência não é a mesma coisa que equilíbrio emocional. Inteligência refere-se ao raciocínio, ao entendimento; situa-se no plano do intelecto. O equilíbrio emocional resulta da capacidade que todos temos, em maior ou menor grau, de lidar com nossos impulsos, positivos ou negativos. Por causa disso muitos autores propuseram expressões que unissem inteligência e controle emocional. Já no começo do século passado, Edward Thorndike falava em “inteligência social”; em 1975, Howard Gardner introduziu a ideia de que inteligência não a uma coisa só, que há vários tipos de inteligência, incluindo a inteligência que permite a uma pessoa entender a si própria, seus sentimentos, temores, motivações; nos anos 90, surgiu o conceito de inteligência emocional popularizado pelo psicólogo (e colaborador do “The New York Times”) Daniel Goleman, autor do best-seller “Emotional Intelligence: Why It Can Matter More Than IQ” (“Inteligência Emocional: Porque Ela é Mais Importante que o QI”).
Isto não significa ignorar a inteligência no seu conceito clássico. O trabalho citado também mostrou um fato interessante: as pessoas que se recuperaram da anorexia nervosa tinham QI mais alto. Ou seja, a inteligência talvez ajude os anoréxicos a combater eficazmente seu problema. Como em tudo na vida, o binômio inteligência-equilíbrio emocional é aí fundamental. Uma conclusão que Isabelle Caro sem dúvida endossaria.
SAÚDE
Tomar ou não tomar, eis a questão
Pesquisa derruba mitos ligados ao consumo de leite e discute se ele deve estar presente na dieta do adulto
Os humanos são mamíferos, mas não parecem muito certos do papel do leite em suas vidas. O alimento está cercado de mitos, que levam muita gente a fugir dele e de seus derivados. Para complicar, alguns médicos e nutricionistas se colocam contra o consumo da bebida. Afinal, deve-se ou não incluir o leite na dieta?
Essa questão motivou a nutricionista Adriane Elisabete Costa Antunes, da Universidade de Campinas (Unicamp), e a bioquímica Maria Teresa Bertoldo Pacheco, do Instituto de Tecnologia de Alimentos de São Paulo, a resgatar evidências que permitam diferenciar fatos e mitos quanto ao consumo de leite na maturidade. Elas perceberam que o consumidor sente-se sem rumo e não encontra orientação consensual entre os profissionais de saúde.
Para enfrentar a polêmica, as pesquisadoras organizaram uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais das áreas de nutrição, biologia, medicina, engenharia de alimentos, química, bioquímica, zootecnia, farmácia e economia.
Do trabalho, resultou o livro “Leite para Adultos: Mitos e Fatos Frente à Ciência”. Adriane Elisabete diz que a equipe procurou argumentos favoráveis e contrários ao consumo e os examinou com base em fundamentações científicas.
“O objetivo é fazer a pessoa ter argumentos para decidir se retira ou não o leite da dieta”, explica.
O veredicto das autoras tende a ser favorável aos produtos lácteos. É verdade que uma parcela da população tem alguma restrição ao consumo. No Brasil, por exemplo, cerca de 25% da população apresenta intolerância à lactose. De maneira geral, os estudos científicos analisados indicam que o alimento traz apenas benefícios para as pessoas saudáveis.
Entre os mitos analisados está o de que o homem não necessita do leite na dieta. Maria Teresa lembra que as grandes fontes de cálcio são justamente o leite e seus derivados. Segundo a pesquisadora, a absorção do cálcio conduzida pelo leite é maior do que a obtida com qualquer outro alimento.
SAÚDE
Você mede a pressão?
Por não fazer seus exames com regularidade, muita gente com pressão alta ainda não sabe que tem a doença. Há hipertensos que recebem tratamento inadequado, e outros teimam em não se tratar por não apresentar sintomas.
“A hipertensão é o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares, que provocam dois terços dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) e 50% dos infartos”, afirma o cardiologista Jairo Borges.
Visor
TABAGISMO
Pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, descobriram que a fumaça do cigarro começa a causar danos genéticos 30 minutos após a inalação das substâncias tóxicas. Tempo que equivale a injetar a substância direto no sangue
Colunista Cacau Menenzes
Psicoloucos
É cada vez maior o número de pessoas depressivas, esquizofrênicas e, infelizmente, muitas, por não receberem atendimento mais constante, optam pelo fim da vida. Enquanto isso, a psiquiatria é a única especialidade médica que não aceita retorno. Passados 15 dias, tem que pagar nova consulta. Quem são os loucos? Nós ou eles
SUPERBACTÉRIA
Hospitais têm de notificar casos
Em Blumenau, as 11 pessoas infectadas recebem tratamento especial
BLUMENAU - A partir de hoje, todos os hospitais do Estado com UTI devem notificar a Secretaria de Estado da Saúde sobre casos de infecção e colonização pela bactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase). A popular superbactéria é resistente a antibióticos como as penicilinas.
A medida é preventiva, uma vez que os casos registrados no Estado até agora não são considerados graves. Em Blumenau, a Diretoria de Vigilância em Saúde foi informada de 11 casos. Todos estão sendo tratados de acordo com as normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde: pacientes isolados e profissionais que lidam com os doentes usam luvas e aventais, além de fazer a higienização das mãos a cada contato.
Médico infectologista do Hospital Santa Catarina, Ricardo Dimas Zimmermann explica que todos os seres humanos têm bactérias no corpo, que podem ser sensíveis ou resistentes. Em um determinado momento, essas bactérias causam infecções e precisam ser tratadas com antibióticos. As sensíveis são logo controladas e eliminadas. As resistentes continuam atuando e precisarão ser combatidas com um segundo tipo de antibiótico. Desta nova eliminação, sobram outras mais resistentes e daí por diante.
No caso da KPC, existem três medicamentos para tratar infecções causadas por ela. Por isso Zimmermann não considera esta uma superbactéria, só mais uma das bactérias que conseguiram anular a eficácia de alguns antibióticos.
Nos organismos em que a bactéria resiste, as infecções mais comuns são a urinária e a pneumonia. Os sintomas são os mesmos da infecção comum, como febre e dor no local. A transmissão, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), se dá no contato entre pacientes contaminados – seja de forma direta ou através de terceiros (médicos ou enfermeiros) – que tenham intervenções que possam causar infecções, como sondas ou catéteres, e estejam em tratamento com antibióticos por um período prolongado.
– Uma pessoa que não esteja internada na UTI nem sendo tratada com antibiótico não irá se contaminar. Não é uma doença contagiosa – afirma Zimmermann.
COMO SE PREVENIR
- Lave as mãos com frequência, especialmente antes e depois de entrar em contato com pessoas doentes ou qualquer objeto próximo delas
- Higienize as mãos com álcool gel, sempre que possível
- Só tome antibiótico se for prescrito pelo médico
- Todos os pacientes portadores de superbactéria devem ficar isolados
- Esteja atento à nova regulamentação da Anvisa sobre o uso de antibióticos. Não insista para que o farmacêutico venda remédio controlado sem a apresentação e retenção da receita
Fonte: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive); Marcelo Schaefer, diretor de Vigilância em Saúde de Blumenau; e Ricardo Dimas Zimmermann, médico infectologista do Hospital Santa Catarina de Blumenau.
Solicitação
No encontro do governador Raimundo Colombo com o prefeito Renato Nunes, sexta-feira passada em Lages, um dos pedidos do prefeito foi a complementação dos salários dos médicos dos hospitais do município. Colombo falou que o repasse do SUS estava defasado. Ao mesmo tempo se comprometeu a analisar os números na busca de uma solução lembrando que não pode apenas um dos lados ser o responsável tem que envolver município, Estado e Governo Federal