Outubro Rosa promove mutirão de reconstrução mamária
O movimento beneficia mulheres que foram mutiladas por causa do câncer e esperam pela cirurgia de reconstrução há anos na fila do SUS
Letícia Mathias
Florianópolis
Em setembro de 2009, Heloisa Neves da Silva Pereira soube que estava grávida de sete semanas. No mesmo mês, recebeu o diagnóstico de câncer no seio. Três anos depois, a história que podia ser triste se transformou em um relato de superação e “milagre”, como ela mesma descreve. Nesta quinta-fera, acompanhada do marido e do filho de dois anos, Heloísa fez a reconstrução da mama que retirou em 2009 por causa do câncer. Ela foi uma das mulheres selecionadas para fazer gratuitamente a cirurgia com o médico Henrique Müller, em uma ação do movimento Outubro Rosa, do qual ela também faz parte.
Hoje, com 34 anos, Heloisa não consegue esconder a alegria de ter sua vida mudada. Havia cerca de 50 pessoas na sua frente na fila do SUS (Sistema único de Saúde) à espera de uma cirurgia de reconstrução mamária. Se tivesse que fazer o procedimento com recursos próprios, Heloisa gastaria no mínimo R$15 mil, valor que ela e família não dispunham.
A cirurgia só foi possível porque em outubro do ano passado ela recebeu um folder sobre o Outubro Rosa. Assim, conheceu o trabalho, se associou à Gama (Grupo de Apoio à Mulher Mastectomizada do Cepon),que é integrada à AMUCC (Associação Catarinense da Mulher Mastectomizada), e se inscreveu para o mutirão.
Até o fim de semana, seis mulheres serão beneficiadas com a reconstrução mamária que tem apoio da Casa de Saúde São Sebastião, Sianest (Serviço Integrado de Anestesiologia) e Allegran, que doou os implantes. Ano passado sete mulheres que também estavam na lista de espera do SUS há mais de três anos, tiveram a mama reconstruída.
A história de Heloisa
Durante o autoexame, em 2009, Heloisa sentiu um caroço no seio direito. O resultado dos exames foi desanimador, ela descobriu que o câncer já estava em fase avançada e precisava de tratamento e intervenção cirúrgica com urgência. Porém havia mais uma questão envolvida, o bebê. A frase que ouviu da primeira médica consultada, Heloisa nunca esqueceu: “Te prepara para fazer um aborto, porque grávida não há chance de tratamento”.
Outros dois mastologistas e oncologistas foram consultados, mas a resposta era a mesma, seria impossível ficar com a criança. Um dos médicos chegou a indicar um local não legalizado para ela fazer o aborto. “Falaram que o bebê nasceria deformado, sem membros, muito doente. Nos apresentaram um monstro”, contou o marido Oséias Pereira, 45. “Diziam que se eu tirasse o filho eles poderiam retirar a mama e já reconstruir no mesmo dia. Como se eu fosse trocar um filho pela mama, não tinha cabimento”, lembrou Heloisa.
Sem esperança e contra a vontade, ela e o marido buscaram autorização judicial para o aborto. No dia que ela faria a retirada da mama atingida pelo câncer, os servidores entraram em greve. Enquanto esperava, na mesma semana, ela recebeu a indicação de outro mastologista e resolveu tentar mais uma vez, buscar uma quarta opinião. A caminho da consulta, o advogado ligou dizendo que a juíza havia assinado a autorização do aborto.
Com muito esforço eles pagaram R$500 pelas consultas com os novos médicos, mas hoje ela tem certeza que foi o melhor investimento que já fez na vida. No consultório, Heloisa e Oseias tiveram suas esperanças renovadas, a médica disse que se eles estivessem dispostos e cientes dos riscos ela poderia ajudar, e indicou um oncologista que aceitou tratá-la mesmo grávida.
No dia dez de novembro de 2009 ela retirou a mama direita. “Dia cinco de dezembro comecei a quimioterapia e no dia 31 fiquei careca”, lembra emocionada. Sem os cabelos, sem uma das mamas e grávida, Heloísa teve uma gestação difícil, cheia de dores. Mas motivada pela criança ela seguia firme, superando os próprios limites. A última sessão de quimioterapia foi realizada no dia sete de abril, vinte dias antes do nascimento de Carlos Eduardo, seu segundo filho que veio perfeito ao mundo.
Heloisa e Oseias ainda guardam o documento de autorização do aborto. O pai pretende mostrar ao pequeno quando ele ficar mais velho duas certidões: “A certidão de nascimento legal e a de vida. Quero que ele veja que Deus transformou a sentença de morte dele em vida. Ele é o oposto da medicina, um milagre para nós”, afirmou Oseias.
O cabelo cresceu e o espelho, que antes era um objeto rejeitado, passou a ser amigo. Além de testemunhar sua história com amigos e familiares ela auxilia mulheres que estão passando por situações semelhantes trazendo uma mensagem de esperança. O câncer foi removido e atualmente ela toma apenas remédio para controle, mas está curada. “Não tenho palavras, só quem passa sabe como é difícil. Eu não me aceitava, mas hoje minha alegria é completa. Só de pensar que vou poder colocar uma blusinha e ir à praia de biquíni sem me preocupar fico radiante, me sinto liberta”, disse Heloisa.
Gratidão recíproca
Para o cirurgião Henrique Müller, que tem um caso de câncer de mama na família e começou o trabalho em 2011 motivado pela mulher, a satisfação de ver o outro feliz é o que o realiza. Ele doou seus dias de trabalho e só ontem trabalhou mais de 12 horas seguidas em benefício às mulheres. Quando questionado sobre o trabalho ele simplifica: “Satisfação plena. Essa troca com o paciente e a gratidão que todos demonstram é impagável”.
Desde 2009 a cirurgia pelo SUS é garantida pela lei nº 9.79. Segundo Simone Lopes, diretora executiva da AMUCC, só no Cepon atualmente há 40 mulheres na fila de espera. A média de espera é de três a quatro anos. “Se levarmos em conta a estimativa do Instituto Nacional do Câncer, que indica 130 novos casos de câncer de mama por ano em Florianópolis, temos certeza da dificuldade. O objetivo é justamente mobilizar, não só para a prevenção da doença, mas para a qualidade no tratamento e recuperação da rotina e autoestima dessas mulheres”.
Central de Diários
Coluna Pelo Estado
Visita ao ministro
Os deputados José Milton Scheffer (PP) e Jorge Teixeira (PSD), respectivamente presidente e vice da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Catarinense, da Assembleia Legislativa, já têm agenda marcada com o secretário da Saúde, Dalmo Claro de Oliveira, para a próxima quinta-feira (25). De acordo com Scheffer, que se disse otimista após reunião da Frente realizada ontem, vão buscar mais explicações sobre o teto financeiro per capita de Santa Catarina, repassado pelo Ministério da Saúde e mais baixo que os valores dos estados vizinhos, Paraná e Rio Grande do Sul. A ideia é, após reunir informações, ter um encontro com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no início de novembro, com a participação do Fórum Parlamentar de Santa Catarina, da Frente em Defesa da Saúde e da Federação dos Hospitais (FEHOSC).
Jornal Diário de Notícias - Criciuma
Coluna Foco Político- Colunista Karina Manarin
Projeto Popular para Saúde